Santa Ironia Batman!
Ou Melhor, titio Gaultier. Esse infant terrible....
Pessoal cheiroso, aqui estou again. Coisa rara postar uma resenha depois da outra. Ou a minha imaginação anda afiada ou dei a sorte (ou azar...) de experimentar outro perfume de insight imediato.
Eu não possuo o belo e lúdico frasco de Fragile. Hoje, durante um dia chuvoso de trabalho chegou a pessoa que mais dá alegria à um apaixonado por perfumes.
Esse cara aqui:
Felicidade de Perfumólatra vem das mãos do carteiro |
A própria Lu me mandou amostra de Fragile EDT porque precisava saber a minha impressão dele. A estranheza sentida por ela seria compartilhada pela minha pessoa também? Desafio dado, desafio realizado.
Provei.
Ó a minha cara ao sentir o perfume:
O nariz por trás de Fragile é o conceituadíssimo Francis Kurkdijian, criador de muitos da casa Jean Paul Gaultier como Classique, Le Male, Gaultier² (amor eterno) entre muitos outros. Nasceu em 1999. A intenção do mestre ao pontuá-lo com esse frasco aparentemente frágil, uma embalagem que lembra caixa de encomenda carimbada e gritando esta característica é justamente brincar com o cliente que o leva.
Fragile pode ser tudo, mas a última coisa que ele se mostra é ser meigo e suave. Na verdade eu sinto falta de mais um símbolo na caixa, ou todos os demais abaixo.
Vamos encarar? Primeiro veremos a pirâmide do bonito:
Notas de Saída:
Tangerina italiana, coentro, gengibre, flor de laranjeira tunisiana, bergamota, anis estrelado, rosa
Notas de corpo:
cravo, tuberosa, Íris, jasmim, gengibre, ylang ylang, rosa
Notas de fundo:
âmbar, canela, almíscar, baunilha, cedro
Perceberam a salada que é essa pirâmide? Temos super-especiarias (coentro, anis, gengibre, cravo, canela), flores mega marcantes (tuberosas, ylang, jasmim e íris) sobre um prato de âmbar e muito, MUITO almíscar.
A cena imaginada foi escalafobética, quiçá assustadora, já aviso. Mas, como sempre reitero, a experiência com um perfume é pessoal e ele pode se comportar de formas distintas em peles alheias.
Você é homem. Caminha apressado pelas ruas do bairro de Georgetown, Whashington, já na escuridão. Veste um longo casaco negro e chapéu, carrega uma maleta consigo. A chuva cai sem mostrar sinal de parar, os becos entremeados por pontos de luz deixam a impressão de uma cidade fantasma, perigosa e indolente.
Pára um segundo e ouve algo atrás de si. Pego se surpresa, sente uma lancinante dor no rosto sem saber o que está a acontecer
A tontura o leva ao chão e a única visão que consegue ter em meio à confusão é um soco inglês pingando parte de suas hemácias que já não residem mais em suas veias enquanto o seu agressor foge correndo.
Dor pulsátil, visão turva. O gosto metálico de sangue invade a sua garganta. Levanta-se e tenta recompor-se. Você precisa estar bem para o que irá enfrentar.
Chega até a casa e observa a luz lugrubriante que sai da janela. Ouve sons desconectos. Caminha até a porta e entra.
Está na cozinha. Ninguém é visto. Há uma panela no fogo onde chia azeite de oliva. Parece ter sido esquecida pois o cabo plástico derrete sob o calor do fogo.
O ambiente mostra uma balbúrdia de elementos. Há um vaso com flores brancas como jasmins e tuberosas em franco esmaecimento. Sobre a simples mesa de madeira há temperos como coentro, canela, gengibre meio ralado, espalhados sem programação costumaz, como se a receita tivesse sido interrompida de chofre. Em outro ponto, gases com fluídos corporais diversos, unguentos de aspecto repugnante. Há cigarros já apagados e outro ainda queimando sobre um cinzeiro já cheio.
Ouve um grito gutural. Mulheres gritam também. Você sai correndo em direção do som.
Corta
Para quem fez o link, essa cena, com algumas modificações para adequar a experiência que tive é a do filme O Exorcista. Foi a primeira imagem que me veio à mente após o soco inicial. Sim, soco para ferir. Fragile abre te agredindo com um áspero acento metálico que me lembrou cheiro/gosto de sangue. Em segundos várias notas entram correndo, uma atrás da outra o que mostrou o exato cheiro de plástico queimado, derretido. Observando bem dá para perceber direitinho a picância do gengibre e aquele aroma picante/amadeirado/agridoce do coentro.
Várias resenhas que li dele falam que a Tuberosa impera em toda a evolução. Não senti isso. Conheço tuberosas muito bem. Na verdade eu fujo de perfumes que a tem como tema principal. Mas na pessoa aqui o que prevalesceu foram as especiarias nele contidas, que me levaram à linká-lo ao quente Kenzo Jungle L´Elefant (que resenhei aqui), que compartilha várias notas com este Gaultier.
Em seguida, sinto como se alguém amassasse flores brancas esmaecidas com um pilão, misturasse à elas azeite de oliva morno e hidratante corporal. Um pouco bizarro, eu sei, mas o hidratante entra porque senti cremosidade provavelmente provindas do jasmim. E envolta disso tudo à notas enfumaçadas. O cigarro da cena.
Permanece assim por horas, passa por uma fase quase animálica (diria que tem castoreum na pirâmide, mesmo não citada) até que enfim desmaia em um inusitado e delicioso fundo ambarado e cremoso, com um almíscar macio envolto em doce baunilha e polvorosa íris.
Pra você ver que todo filme de terror pode ter um final feliz.
Confesso, não gostei nenhum pouco dele. Talvez essa experiência traumática esteja atrelada à uma amostra oxidada, quem sabe?
Procurarei outra amostra e caso for, venho me retratar!
A minha intenção não foi agredir os fãs do perfume, até porque gosto muito da ousadia da casa Gaultier. Caso você o sinta diferente, poste nos comentários!
A Adriana Meire fez uma resenha bem diferente da minha no I put a Perfume on You (leia aqui).
Acho que terei pesadelos esta noite...
Bjxxx de K-Pax.
PS: Revelem alguns erros gramaticais. Resenhei atabalhoadamente.