segunda-feira, 24 de março de 2014

Envenenando



Arquivo pessoal


Ahhh...

Dias nublados, frescos e com chuva cálida estão para o meu ser como o sol e a praia estão para surfistas e adoradores de um belo bronze. Por conseguinte, nada como o combo calor+sol+luminosidade excessiva para me agredir como um tapa ardido no rosto.


Com o verão causticante à castigar nosso couro diuturnamente, faz-se tudo para aplacar a sensação de estar respirando gelatina quente. No quesito perfumes, tudo nos obriga à tentar reproduzir uma sensação de brisa, chá gelado, limonada, até gelol se possível (Perles de Lalique, tudo bem???). 

Eu, uma amante de perfumes mais intensos e orientais até estava indo bem, possuo vários frescos que adoro no meu armário. Mas...nada como um perfume com aquela pegada. E o primeiro que me vem à cabeça quando penso em dias escuros e frios é a maçã negra, obscura, detentora de uma poção complexa, intoxicante e matadora.

Vamos de Poison, Dior. 

O frasco, o nome, a intenção e a sua construção remetem à poder, subjugam quem perpassa a sua névoa púrpura (sim, o conteúdo do frasco reproduz a cor do vidro). Literalmente perturbador. Ou você se entrega...ou tem trauma. Mesmo. 

Vamos à pirâmide:

Saída: Coentro, Ameixa, frutas vermelhas, anis, pau brasil
Corpo: Cravo, Jasmin, Flor de Laranjeira africana, Tuberosa, Opoponax, Canela, Incenso, Rosa e Mel branco 
Fundo: Vetiver, Almíscar, Sândalo, Cedro da Virgínia, Âmbar, Baunilha e Heliotrópio

A complexidade das notas denuncia o seu dono.

Vamos viajar um pouco?

Basílica de Notre Dame, Paris. 

A luz cálida da lua penetra nos vitrais rebuscados iluminando vagamente a estupenda arquitetura medieval, onde a máxima da época era encerrar o máximo de espaço vazio dentro do mínimo de partes cheias , o que indicaria leveza e ao mesmo tempo muita solidez. 

Catedral de Notre Dame. Fonte: Wikipédia

Ouve-se passos de timbre firme. Há uma névoa recobrindo o ambiente, produto do turíbulo utilizado anteriormente. Enevoa a visão do estupendo altar, onde se observa a reprodução insana da fachada de outra igreja . Há flores brancas sobre vasos, aroma que entorpece na névoa. Frutas vermelhas maduras, quase ao ponto de estragar, sobre um prato. A figura lúgrubre se move, passos ecoam. Um manto negro revoa sobre o andar firme. Adentra a névoa, para diante o altar.

Manto cai ao chão. Revela-se uma mulher, pele muito branca, corset contornando o corpo, luvas e botas subindo a linha do joelho, de brilhante vinil. Máscara sobre os olhos negros e batom vermelho sangue com aspecto vítreo. Um vidro com líquido âmbar viscoso está em uma das mãos. Ela o eleva e o derrama sobre seu corpo e rosto. É mel. 

O sagrado e o profano.
Esse é o Poison. 

Eu tive de resumir, dissecar praticamente a historinha porque senão a resenha não iria sair...estaria a escrever algum conto. Ser sucinta não está em minhas qualidades.

A evolução de Poison, desde o início, é um soco. 
Mel..mel..mel...frutas vermelhas. Canela. Ah, a ameixa. Espera....o...ahhhh, que delícia..o oppoponax. A mirra doce. Ela está no corpo do perfume mas o sinto desde início. Dá aspecto de veludo alemão sujo de mel e deixado sobre um tronco de madeira para secar. Dá aquele cheiro resinoso-confortável-pele. Aprendi que AMOOOO essa nota!

Jasmim e tuberosas são bemm presentes, a tuberosa principalmente. Aliás, eu sinto até um Ylang no meio de tudo, apesar de não ter. Sinto as rosas discretas. a baunilha (formigas,esqueçam, NADA gourmand), MUITO incenso, que se une à canela e ao oppoponax ...âmbar, esse lindo!Sim, percebi ele!

Na verdade, a evolução dele é tão complexa, rebuscada e perfeccionista que eu mesma não me sinto digna de resenhá-lo. O meu nariz é bom para algumas notas e péssimas para outras. Na verdade, a minha cachola que funciona para imaginar sobre o perfume.

É doce sim. Mas um doce escuro. Não é gourmand. Acho que seria um doce de sarcasmo. Um doce dado por uma vilã. Uma vilã da Disney. 

Ahhh, vcs irão dizer..a Rainha Má da Branca de Neve. Tem a maçã, tem a vaidade, tem o luxo. Sim, ele tem tudo isso. Mas tem um pequeno detalhe: não depender da opinião alheia para fazer sucesso (como a Rainha Má, que sugava a juventude das meninas). Não. Ele é soberano. Maligno, inebriante. 

Eu vejo a Maléfica, com a Angelina Jolie como persona.
Ok, peguei pesado, ele não é do mal. Mas você precisa transitar pelo obscuro para apreciá-lo. 

Prove. Eu fiquei de 4 amarrada e imobilizada quando os meus neurônios ligados à area olfativa cerebral....processaram. Ícone da perfumaria. Se tu gostas de perfume....precisa conhecer esse divisor de águas (não entrei na história do criador porque a resenha não sairia !)


bjss de K-Pax

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Apimente o PV, seu comentário é muito importante!