Imperial Oppoponax Les Néréides. O rei do meu armário |
A última mesa redonda entre os Blogs (postada no dia 15) acabei perdendo e não postei. O tema girou em "perfumes que te aquecem no inverno". Certamente um dos que incluiria na lista é a belezura ali acima.
Minha expressão ao senti-lo |
Mas o querido tem história até chegar no meu armário. Idos de 2010, verão, Orkut (ah, nunca esquecerei). Realizei uma troca com a Li, do Parfums et Poésie e na caixinha veio várias amostras responsáveis pela minha gana por perfumes difíceis. Entre elas estavam vários descontinuados (que guardo como relíquias afim de um dia resenhar) e ele. Oppoponax.
Não preciso nem dizer que caí pra trás quando o conteúdo daquele pequeno flaconete contaminou os meus receptores olfativos. Meus sais, eu PRECISAVA ter o perfume.
Cartinha escrita no punho da First in Fragrance. |
Os problemas estavam no fato desta marca não ser vendida na Terra Brasilis além de ser um pouco onerosa e ser vendida em somente algumas lojas internacionais. Pois a First in Fragrance, uma loja alemã foi a minha escolhida. E gente, todos sabem da eficiência alemã. Certamente voltarei à comprar por lá.
Oppoponax. Sou feioso mas cheiroso |
Mas vamos ao perfume. Opoponax (quando o comprei, ainda se chamava Imperial Opoponax) é um perfume de uma casa que trabalha mais com joalheria do que propriamente perfumes, Les Néréides. Foi criada em Nice, na França em 1980 por Pasquale e Enzo Amaddeo (que, curiosamente, tem origem italiana). Oppoponax é uma ode à essa resina, também conhecida como Mirra Doce. Farei um post falando somente dela porque amo essa nota em perfumes. Aliás, vamos às notinhas dele:
Cítricos, sândalo, âmbar, baunilha, Benjoim, Âmbar.
Sem pirâmide, sem muitos detalhes, nebulosidade soprando aos ler suas descrições. Tudo o que uma escorpiana ama. E outro ponto de amor é o fato de não haver flores nele.
Sim, eu gosto de flores, inclusive adoro vários florais. Mas quer me ver de queixo roçando o piso e com os joelhos a balançar, me dá um perfume baseado em resinas, madeiras e especiarias. E sem flores. Gaultier² não me deixa mentir (resenha em breve).
Imersão:
Idade média. Igreja suntuosa, pé alto, muitas esculturas santuárias em madeira. Na penumbra a luz do dia entra sinuosa pelos vitrais detalhados. Dia de temperatura quente. Lá dentro, no entanto, mantem-se o frio suntuoso e espiritual que habita tais construções. Não há pessoas aqui, onde a mistura de pele, suor e movimento sujariam o aroma principal.
Paços largos ecoam pelas pilastras, a fumaça segue o vulto que carrega o turíbulo repleto de incenso a fumegar. Fumaça doce, incensada, celestial. O ambiente pode ser frio mas o aroma aquece de imediato, acalenta, acalma, transcende.
Pense no cheiro da madeira, ainda jovem e na fumaça adocicada do turíbulo.
Esse é o Imperial Oppoponax. Há quem diga que o verdadeiro aroma de igreja existe em Incense Avignon Comme des Garsons. Como não o conheço ainda (alguma alma caridosa me cede um decant micro?), meu aroma de Igreja continua sendo o Opoponax.
Imagino que devas estar pensando que é datado, cheiro de mofo, de papéis guardados. Não, lonnnnge disso. Não há talco, não há civeta nem tuberosas, nem o verdadeiro incenso tão presente em perfumes de outros carnavais. Aliás, acredito que todos deveriam ter contato com tal perfume pois é completamente compartilhável.
A saída é um fiapo cítrico de laranja. Mas notas não especificam qual cítrico seria, eu sinto laranja. Suculenta, cortada, escorrendo suco. Mas é só nos segundos iniciais. Logo depois temos o Benjoim (que também é uma resina que dá um aspecto de baunilha incensada nos perfumes, uma de minhas notas prediletas) bailando com a baunilha e o oppoponax em toda a evolução do perfume. O trio é adocicado. O âmbar se mantém presente dando aquele ar mais austero avec sensual e o sândalo "amanteiga" com sua característica de madeira leitosa e suave. Complicado destrinchá-lo, as notas são bem amarradas e não se destacam uma a uma.
É um perfume quente, defumado, doce, intenso, nebuloso. E também carinhoso. O antigo hibridizando o futuro.
Sabe quem lembra ele? De loonnge? O Obsession de Calvin Klein, o Gaultier², Joop Le Bain. Todos quentes, resinosos e adocicados. Claro, cada um com suas característica sespecífica, mas sentariam tranquilamente na mesma mesa do restaurante para bebericar um vinho.
Se puder, experimente. Uma palavra: transcedental.
Bjuxxx de K-Pax.
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