sexta-feira, 4 de julho de 2014

O Galo da madrugada: Resenha do Kokorico


Como falar de Jean Paul Gaultier sem pensar também em Thierry Mugler? Simplesmente porque ambos não estão NEM AÍ para o que pensam de suas criações e fazem o que querem. Obviamente que a indústria visa o lucro, suas marcas são designers conhecidas e procuradas, logo, uma certa "travada" da empresa deve acontecer ante à criatividade do nariz que produz o perfume (o que, teoricamente, não acontece nas marcas de nicho, onde as loucuragens perfumísticas ganham outros andares). Porque será que gosto tanto de suas criações? Quem me acompanha nas resenhas certamente sabe o porque.

Mesmo com todos esses fatores, ainda conseguem inovar. No caso aqui, o "infant Terrible" Gaultier resolveu jogar as penas para o alto, colocar os pés sobre a mesa, puxar um charuto de chocolate e esperar a reação da platéia.

Esse Gaultier.... olha a ousadia do cara em colocar o grito do galo como nome do perfume. E o que dizer do frasco? Esse rosto negro, com nariz adunco e o nome fatítico praticamente grafitado. E a surpresinha?

De ladinho temos o corpitcho do famoso Le Male. 


Le Male e Kokorico. Semelhança NÃO é mera coicidência. 


Tudo leva a crer que o dito cujo é a imagem do ultra macho, com "bigodón", peito peludo e ar de Magnum.  Será?

Kokorico foi criado em 2011 por uma duplinha de peso: Oliver kresp, cujas dezenas de criações englobam Noa, Light Blue, Midnight Poison, Glória (ó Deus, descontinuá-lo foi um dos maiores erros da perfumaria)Ange ou Demon, Kenzo Amour....é tanta coisa boa que levaria um artigo inteiro falando disso. O outro criador é Annick Menardo, responsável por Hypnotic Poison, Fuel for Life Femme, Bvlgary Black, Xeryous Rouge, Hypnose....bom, sem comentários sobre esse estupendo nariz, né vero?

Pensamos então, "lá vem coisa boa". Olha, impressão é pessoal e varia muito. Ele é do tipo ame ou odeie. Ou ame as vezes e odeie as vezes (acontece comigo as vezes, adoro o perfume em um dia e no outro detesto...mulheres).

Chega de encher linguiça e vamos às notinhas do galinho:
Saída: Folha de figo
Corpo: Patchouli, Cacau
Fundo: Vetiver, Cedro da Virgínia.

Vamos colocá-lo em uma cena que se adeque?


Você é um homem na na casa dos 30, ou quase isso. Elegante, austero, veste um terno bem cortado, cabelo "displicentemente" jogado em alguma posição interessante que permaneça o dia inteiro na mesma forma (amor ao gel, esse lindo). Ar superior, sabe o que é e afirma isso. Ainda na empresa, pensa em estender a noite para terminar algumas pendências. Olha pela enorme janela do escritório. A noite está fria, convida para o aconchego. E, quem sabe, uma esticada na noite mais tarde.

Chegando em casa, vai até a mesa onde há muitas garrafas de bebidas. Escolhe uma garrafa de Baileys, sai com a mesma na mão, dando goles no gargalo. Olha para a sala. O frio arrepia a pele, a lareira ampla e moderna jaz negra, vazia, pedindo calor.

Imagina a lareira sem o fogo. 
Decidido, retira o paletó, gravata e camisa, as atira sobre o sofá e vai em direção à garagem. A alguns dias vinha armazenando toras de madeira para a lareira, no entanto, as mesmas se apresentaram grandes demais. Sem pensar, observa o machado rústico pendurado à parede. Pega uma das toras e a leva para fora, no tempo, abaixo de de uma árvore frondosa do pátio. O aroma de folhas verdes é presente junto à umidade do ar. Eleva o machado e com toda a força o enterra sobre a madeira endurecida, aos poucos conseguindo pedaços menores. Suor escorre devido ao esforço. Toma mais uns goles da bebida, e segue no trabalho até conseguir uma boa quantia de lascas. 

Volta para dentro de casa, apruma os pedaços na lareira e alimenta o fogo. Senta calmamente sobre o sofá, pouco se importando se o suor ou a terra de seus sapatos sujem o ambiente. Garrafa de licor na mão e olhos hipnotizados pelo bailar crepitante das chamas. 

A saída mostra verdadeiramente um cacau alcólico. Adocicado, quase amendoado, parece mesmo com o Licor Baileys, que é de Cacau com baunilha. Ou até um licor de amêndoas (tipo o Frangélico) acrescido de puro cacau. Essa saída cremosa/alcólica perdura por um bom tempo.  De leve, vejo a folha de figo abrir a porta do recinto de mansinho, receosa, não querendo aparecer muito, já que o cacau é um pouco narcisista e não aceita alguém além dele no palco. O lance aqui é ser sutil. O patchouli é outro narcisista, toma conta de tudo mas, seguindo as instruções da querida folha de figo, entra quieto. Peito aberto e olhar altivo, mas sem alarde. E assim..... há o domínio patchulinesco. Como essa nota adora uma outra chamada vetiver (aquela gramínea aparentemente inofensiva mas vital para perfumes masculinos), temos então um palco feito de cedro, coberto de vetiver com um patchouli dançando ao lado do cacau. O conquistou aos poucos e ambos brilham em uma cama verde e seca.

É, hoje eu estava bem inspirada, há dias que acontece.
Como eu o classificaria? Na vera, a entrada de Kokorico é quase feminina, cacau, quase chocolate, adocicado (não doce), quente e cremoso. Como um homem moderno, cabelo aprumado, elegante, quase andrógeno. A evolução mostra a sua face masculina, como aquele que se despe e quebra toras de madeira ao relento. 

Muitas pessoas que o conheceram disseram que ele parece uma quimera de muitos outros. Não discordo, realmente! Mas....o vejo exatamente como a situação que pintei lá em cima: Titio Gaultier faz uma loucuragem misturando vários conhecidos, fazendo uma viagem em poucas notas e senta para observar o gritedo do pessoal.

Pena que o grito não foi tão forte como deveria, ele passou um pouco esquecido entre os lançamentos. Talvez o excesso de excentricidade na divulgação ou até o próprio nome. Pois eu entrei no time dos que amaram. Pela ousadia e também por dar uma de "Tarantino" perfumístico e tirar sarro da cara de todo mundo. Cria algo que lembra muitos, faz uma evolução que une mulher e homem e coloca um nome weird. Começa mimoso e termina quase um Chuck Norris. 

Como não amar????

Vamos enriquecer a experiência? Dâmaris e Henrique "Rick" Perrella já falaram dele no 
Village Beauté e no Perfume do Dia (Rick, pecado não ter continuado com esse blog estupendo!!!).

Pra vcs, mais uma imagem do bichinho:


Menção honrosa ao Daniel Ianegitz Vieira, no qual desapegou dele e eu peguei.

Bjssss de K-Pax.

Um comentário:

  1. adorei sua resenhaaaa!
    estou a dois dias lendo e ouvindo (youtube) tdo sobre esse kokorico mas a sua resenha foi o desfecho perfeito!

    Tenho certeza que vou gostar.

    obrigado pela otima resenha
    ps: toda a cena do cara e tal ajudou muuito ;D

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